A Terra Que Sussurrava - Acesse Carros

A Terra Que Sussurrava

Desvende o mistério da fazenda do seu Antenor.

Na vastidão seca do interior mineiro, onde o vento assobiava entre os galhos retorcidos do cerrado e a terra estalava sob o sol inclemente, vivia Seu Antenor — um fazendeiro de mãos grossas e alma teimosa, marcado por cicatrizes de batalhas travadas com o tempo e a natureza.

Antenor já passava dos sessenta, mas seus olhos ainda carregavam o brilho inquieto de um menino curioso. Viúvo há dez anos, morava sozinho na Fazenda Santa Inês, herança do pai, herança que ele, por teimosia ou orgulho, se recusava a vender, mesmo com as colheitas cada vez mais fracas e o gado cada vez mais magro.

A fazenda parecia estar condenada ao esquecimento. E ele junto com ela.

Mas tudo mudou numa manhã em que o orvalho ainda brilhava nas folhas grossas da pastagem. Uma manhã que começou como qualquer outra — e terminou como nenhuma outra.

O Sussurro da Terra

Naquela madrugada, Antenor foi acordado por um som estranho. Um sussurro — fraco, como se a própria terra estivesse tentando lhe contar um segredo. Ao abrir os olhos, o fazendeiro julgou ser o vento, mas havia algo diferente naquele som. Não era o vento. Era mais… profundo.

Na dúvida, levantou, colocou o chapéu surrado e saiu com sua lamparina. A noite ainda teimava em cobrir o mundo, mas ele seguiu por entre os pastos. Chegou até a encosta do morro do Espigão, onde nunca plantara nada, pois a terra ali era dura como pedra.

E então, de novo, ouviu o sussurro.

Antenor se agachou, encostou a mão no chão seco. Um arrepio percorreu sua espinha. Nada. Silêncio. Mas o desconforto ficou.

Voltou para casa sem entender, mas o sentimento de que algo estava prestes a acontecer o acompanhou até o nascer do sol.

A Chegada de Davi

Na semana seguinte, Antenor recebeu uma visita inesperada: Davi, seu neto de 17 anos, filho de seu único filho que morava em Belo Horizonte.

— Vó mandou eu passar uns dias com o senhor — disse o menino, com a mochila nas costas e os olhos grudados no celular.

Antenor bufou. Tinha pouco a oferecer além de terra rachada, leite morno e silêncio.

— Aqui não tem internet, não. Nem essas modernidades todas.

— Melhor — disse Davi, para surpresa do avô. — Quero desligar um pouco.

Antenor apenas assentiu, escondendo o orgulho. Durante os dias seguintes, os dois criaram uma rotina: cuidar das vacas, consertar a cerca, preparar o fogão a lenha, e conversar à noite sob o céu salpicado de estrelas.

Era como se a presença do neto tivesse devolvido alguma cor à fazenda. Mas o estranho sussurro… ele voltava todas as noites. Sempre mais forte.

A Cova

Certo dia, enquanto cavavam um buraco para enterrar uma das vacas que havia morrido misteriosamente, Davi encontrou algo duro no solo.

— O que é isso, vô?

Era uma pedra redonda, lisa e escura. Mas ao tirá-la da terra, Antenor sentiu um calor estranho na mão.

— Deve ser ferro do morro. Tem umas lendas de minério por aqui — disse, tentando esconder o incômodo.

Mas à noite, os sussurros voltaram. Agora, nítidos. Como se estivessem dentro de sua cabeça:

“Escave. Mais fundo. A verdade está enterrada.”

Ele não dormiu. No dia seguinte, voltou ao mesmo lugar, com uma pá e o neto ao seu lado. Cavaram. Horas a fio. Encontraram mais daquelas pedras. Uma, duas, depois dezenas, até que… a terra cedeu.

Debaixo do solo, havia uma estrutura antiga — como uma câmara. Um espaço escavado à mão, coberto por séculos de silêncio e poeira.

Antenor hesitou. Davi olhou para ele, os olhos arregalados.

— A gente vai entrar?

— Vamos.

O Mistério da Câmara

Lá dentro, o ar era denso. Havia símbolos entalhados nas paredes, que pareciam ancestrais. Uma mistura de arte indígena e algo que Antenor jamais vira antes.

No centro, havia um altar de pedra. E sobre ele, uma caixa. Era pesada. Feita de metal escurecido, com trancas complexas.

— Vô… isso parece coisa de filme. Será que não é perigoso?

Antenor não respondeu. Levou a caixa para casa. Passou a noite em claro tentando abri-la. E então percebeu: havia um mecanismo. Um tipo de fecho antigo, quase ritualístico.

Demorou dois dias, mas enfim, conseguiu. Quando a tampa se abriu, Antenor arregalou os olhos.

Mas não disse nada.

Nem a Davi. Nem a ninguém.

Só ficou ali. Sentado. Olhando.

Mudanças

Nas semanas que seguiram, tudo mudou na fazenda.

Antenor começou a sorrir mais. A tratar melhor os animais. O pasto, que antes era seco, parecia mais verde. As vacas, mais gordas. As galinhas, mais férteis. Davi notou.

— O que aconteceu com o senhor?

— Nada, só ando dormindo melhor — respondeu o avô, desviando o olhar.

Mas Davi percebia outras coisas. Um brilho estranho no olhar do avô. Um cuidado exagerado com o galpão velho onde ele agora trancava a tal caixa.

Até que, numa madrugada, o menino também ouviu.

Os sussurros.

A Descoberta de Davi

Curioso, Davi esperou o avô dormir e foi até o galpão. Forçou a porta, entrou e encontrou a caixa. Estava aberta. Dentro, havia algo coberto por um pano grosso. Quando levantou o tecido, seu coração disparou.

— Meu Deus…

Não conseguiu dizer mais nada. Apenas ficou ali, hipnotizado.

Antenor apareceu na porta, em silêncio. Os dois se encararam por longos segundos.

— Agora você sabe — disse o velho, com a voz cansada.

— Por que não me contou?

— Porque certas coisas não devem ser compartilhadas. Elas têm poder.

Davi abaixou a cabeça.

— Mas agora que você viu… vai ter que carregar isso comigo.

A Visita do Forasteiro

Dias depois, um homem apareceu na porteira. Traje fino, sotaque carioca, olhar frio.

— Boa tarde, Seu Antenor. Ouvi dizer que o senhor encontrou… algo interessante em sua fazenda.

Antenor travou. Davi apertou o cabo do facão.

— Não sei do que o senhor tá falando.

— Ah, mas sabe sim. Essas terras têm história. E nós temos interesse nelas. Podemos fazer uma proposta. Uma muito generosa.

— Não está à venda.

O homem sorriu, mas havia veneno no sorriso.

— Todos têm um preço, Seu Antenor. Pense bem. Antes que a natureza volte a cobrar o que é dela.

E então se foi.

Mas deixou o medo.

O Último Sussurro

Naquela noite, os sussurros voltaram. Não vinham mais da terra. Vinham de dentro da casa. Da caixa. De dentro deles.

Antenor se levantou. Davi também. Os dois sabiam o que tinham que fazer.

Foram até o galpão, abriram a caixa, e pela última vez, olharam seu conteúdo.

— A gente tem que enterrar de novo — disse Davi.

— Eu sei.

Foram até o morro. Cavaram fundo. Mais fundo do que antes. Devolveram a caixa ao solo. E cobriram com pedras, barro e silêncio.

Na manhã seguinte, a fazenda parecia igual. Mas Antenor sentia que algo havia mudado. Algo essencial.

Davi voltou para Belo Horizonte. Mas prometeu voltar.

Antenor continuou sua rotina. Simples. Solitária. Mas em paz.

E só anos depois, quando um pesquisador local pediu autorização para estudar o terreno, é que a história da Fazenda Santa Inês viria à tona.

O Que Foi Encontrado

Dentro da caixa havia três ovos. Mas não eram comuns.

Eram ovos de ouro maciço.

Lisos, pesados, perfeitos. Sem marca de fabricação. Sem costura. Sem rachaduras.

E, o mais impressionante: a cada lua cheia, um novo surgia dentro da caixa.

Os sussurros? Nunca foram da terra. Vinham de dentro dos ovos.

Eram como um chamado. Um convite.

Ou talvez… um aviso.

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